Trégua de cores, comidas e som, hoje, só texto.
corta a franja pra deixar voar, poda o mal pro bem cicatrizar, envia um e-1/2 por inteiro, planeja a demissão, mas planeja, respira, mas não engole, vai pra Suíça, pula a missa, muda de casa, faz um rito, dá um grito, leve só uma muda, mas não se cale quando o calo apertar. abre o zíper, solta o sutiã, esgarça o sapato, estica o cadarço, pra não passar aperto, nem no corpo, nem no peito, muito menos no peito. peite as coisas, mas primeiro, observa, entre muda e de olho, mas não saia calada.
mas ali, na calada, quando ninguém te vê, quando o silêncio faz aumentar o volume dos teus pensamentos, ouve. fica de olho em você. imagina, imagina uma bolha azul, transparente, tipo o líquido amniótico, que te protege, e de onde tudo se vê.
entre você e o mundo, entre você e o ar, entre o que quer vir e entre o que pode entrar, tem você. tem a sua pele. tem um mantohidro.
solta o cabelo, as amarras, o rabo preso com pai, mãe, chefe, síndico. teu rabo também é solto, então dança. aprende de outras gentes, se mexe pra que tudo se mexa. sente esses ossos que também são moles. amolece, amolece os pedaços. o que é mole se ajeita, ganha milhões e mil formas, o que é duro empedra, apodrece, se arrebenta, vira milhões e mil pequenos pedaços tristes quebrados na queda.
mas pra cortar os rabo preso, sair do 1/2 por inteiro, e de bem aberto o peito, às vezes, tem que virar forma de pedra, pra poder se atirar em tudo. só que a pedra sabe o que é ser líquida, porque um dia foi e um dia será outra vez.
esse é o sonho, virar uma pedra amolecida por dentro, que alcança largas distâncias sem sair um centímetro de si, envolta por uma camada física-imaginária protetora, sem sutiã.
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